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6.1.07

Dificuldades de Aprendizagem

De acordo com a definição do National Joint Committee of Learning Disabilities (NJCLD, 1988), Dificuldades de Aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisicão e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático.
O ponto mais importante a ser ressaltado é que a criança com dificuldades de aprendizagem não é uma criança deficiente. A criança com dificuldades de aprendizagem é normal, e apenas aprende de uma forma diferente; apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o potencial esperado. Não apresenta deficiência mental, pois possui um potencial normal que não é realizado em termos de aproveitamento escolar.
Tomando como exemplo de dificuldade de aprendizagem a Dislexia, Rabinovitch (1960), um dos primeiros investigadores a integrar aspectos neuropsiquiátricos no conceito desta patologia. Este autor propõe que o perfil da criança disléxica pode ser provocada por:
Aspecto emocional : a capacidade está intacta, mas afetada por influência externa negativa;
Lesão cerebral : a capacidade de aprendizagem encontra-se afetada, devido a uma lesão cerebral manifestada por deficiências neurológicas (e não mentais) evidentes;
Verdadeira dificuldade de leitura : a capacidade de aprendizagem da leitura está afetada, sem nenhuma lesão cerebral detectada nos exames neurológicos.
De acordo com os estudos do autor sobre a Dislexia (um exemplo de dificuldade de aprendizagem, podemos verificar que uma criança com esta patologia não é portadora de deficiência, e sim uma criança que apresenta uma dificuldade específica.
As dificuldades de aprendizagem se manifestam quando o processo de aprendizagem não ocorre conforme o esperado, podendo se manifestar através de vários sintomas.
Podemos observar que numa criança que apresente dificuldade de aprendizagem, existem sintomas que estão sempre presentes: as falhas de percepção visual e/ou auditiva.
O processo perceptivo complexo depende dos sistemas sensórios e também do cérebro. Os sistemas sensórios detectam as informações, convertem esta informação em impulsos nervosos, processam parte dela e mandam a maior parte para o cérebro via fibras nervosas. O cérebro irá desempenhar o papel mais importante no processamento dos dados sensoriais.
Portanto, a percepção depende de quatro operações:
Detecção > Transdução (conversão) > Transmissão > Processamento da informação
A maior parte do processo de informação sensorial realiza-se nas diferentes regiões do córtex cerebral. Na percepção visual, por exemplo, o homem utiliza várias estratégias de processamento para interpretar a informação visual dos objetos, dentre elas: a constância, a figura-fundo, o agrupamento.
Quando a criança com dificuldade de aprendizagem apresenta falhas na percepção visual, ela pode comprometer estes itens todos ou uma parte deles. E assim também ocorre coma percepção auditiva.
O fonoaudiólogo deve saber realizar avaliações muito criteriosas para fazer a triagem de uma criança com queixa de dificuldades de aprendizagem.
Segundo McCarthy (1974), as crianças com dificuldade de aprendizagem apresentam um conjunto de condutas que se desviam em relação à população de crianças que não apresentam tais dificuldades. O autor enumera mais de 100 comportamentos específicos, porém os 10 mais freqüentes são os seguintes:
Hiperatividade;
Problemas psicomotores;
Labillidade emocional;
Problemas gerais de orientação;
Desordens de atenção;
Impulsividade;
Desordens na memória e no raciocínio;
Dificuldades específicas de aprendizagem: Dislexia (distúrbio grave da leitura devido à imaturidade e à disfunção neuropsicológica); Disgrafia (dificuldade no ato motor da escrita); Disortografia (troca de grafemas) e Discalculia (dificuldade para aprendizagem de noções da matemática, que inclui: quantidade, dimensão, ordem, relações, tamanho, espaço, forma, distância e tempo);
Problemas de audição e da fala;
Sinais neurológicos ligeiros e equívocos e irregularidades no Eletro-encefalograma.
A criança com dificuldade de aprendizagem apresenta inteligência normal, adequada recepção sensorial e comportamento motor e sócio-emocional adequado. Possui sinais difusos de ordem neurológica, provocados por fatores ainda hoje pouco claros, mas podendo incluir índices psico-fisiológicos, variações genéticas, irregularidades bioquímicas, lesões cerebrais mínimas, alergias, doenças, etc., que interferem no desenvolvimento e na maturação do sistema nervoso central.
Se acrescentarmos a esses dados aspectos emocionais, afetivos, pedagógicos e sociais inadequados, o quadro torna-se mais complexo.
Bannatyne (1971) apresentou numa visão global e diferenciada as principais características da criança com dificuldade de aprendizagem (ou da criança disléxica), salientando que nem todas as características obrigatoriamente necessitam estar presentes para se identificar o problema:
Problema de discriminação auditiva de vogais;
Inadequada seqüência fonema-grafema;
Fraca associação auditiva e pobre complemento auditivo;
Problemas de linguagem falada;
Problemas de maturação na funções da linguagem;
Alguma eficiência visuoespacial;
Problemas de lateralidade;
Inversão de imagens e de letras;
Inconstância configuracional e direcional;
Dificuldades em associar fatores verbais e conceitos direcionais;
Dificuldades no ditado (integração auditivo-visual-motora);
Fraco autoconceito.
Muitas vezes, a escola adota um critério seletivo e de rendimento que pode influenciar e reforçar a inadaptação escolar, culminando muitas vezes, mais tarde, no atraso mental, na delinqüência ou em sociopatias múltiplas.
Vamos determinar o que não é uma criança ou um jovem com dificuldades de aprendizagem, utilizando um diagnóstico por exclusão. A criança ou jovem com este problema:
Não aprende normalmente;
Não tem deficiências sensoriais (visuais ou auditivas). O que ocorre muitas vezes, é uma falha no processo de percepção e discriminação (perceber e discriminar visualmente e/ou auditivamente);
Não tem deficiência mental;
Não tem distúrbios emocionais graves;
Não emergiu de um contexto de privação ambiental ou sócio-cultural.
A importância da identificação precoce:

Na prática, a identificação precoce dos distúrbios de aprendizagem>, se faz de modo a evitar os problemas que tendem a se complicar com a evolução escolar.
Esses pequenos problemas costumam surgir na idade pré-escolar, onde geralmente são identificados pelos professores. A pré-escola é o período mais adequado para a identificação das dificuldades de aprendizagem, pois assim, podemos garantir uma intervenção preventiva nos seguintes parâmetros de desenvolvimento:
Linguagem;
Psicomotricidade;
Percepção auditiva e visual;
Comportamento emocional.
A identificação não é um diagnóstico, mas sim um processo de despistagem e rastreio, voltando a atenção para as necessidades educacionais específicas das crianças.
A identificação precoce dos problemas deve levar em consideração vários fatores, conforme exemplo a seguir:
Compreensão auditiva: compreensão do significado das palavras; discriminação de pares de palavras; discriminação de frases absurdas; compreensão de histórias lidas; compreensão dos diálogos realizados dentro da classe; memória de curto termo (palavras e frases); retenção da informação e execução de instruções verbais, etc.
Linguagem: vocabulário; organização gramatical; formulação de idéias (fluência); contar histórias; relatar fatos e experiências e acontecimentos; descrição de figuras e ilustrações; explicação e fundamentação de opiniões; qualidade e entonação da fala; reprodução de canções, rimas, etc.
Percepção visual: discriminação, identificação, complemento (gestalt), memória; coordenação visuomotora; figura-fundo; constância de forma; posição e relação de espaço; escrutínio visual; etc.
Orientação: orientação espacial; apreciação das relações; lateralidade em si e nos outros; direcionalidade; ritmo; apreciação do tempo; etc.
Psicomotricidade: equilíbrio; imagem corporal; imitação de gestos; desenho do corpo; agilidade; motricidade fina; manipulação de objetos; etc.
Criatividade: espontaneidade; curiosidade; exploração; dramatização; modelação; pintura; desenho; invenção; imaginação; grafismo; etc.
Comportamento social: cooperação com outras crianças e com adultos; atenção; organização; auto-suficiência; atividade lúdica; responsabilidade; cumprimento de tarefas; etc.
A intervenção fonoaudiológica se faz mais eficiente quanto mais cedo for colocada em prática. É importante lembrar que a intervenção é conseqüência de uma identificação dos sinais que funcionam como alerta para alguma coisa de "errado" que está acontecendo com a criança.
Até o próximo artigo, com mais informações sobre Fonoaudiologia e áreas afins!
E um FELIZ 2007 PARA TODOS OS LEITORES E FAMÍLIA!!!

1 Comentários:

  • o que eu estava procurando, obrigado

    Por Anonymous Anônimo, às 7:39 PM  

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