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26.3.07

Nutrição do Recém-Nascido Pré-Termo

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, recém-nascido pré-termo (ou prematuro) é aquele que nasce com idade gestacional inferior a 37 semanas.
O ápice do desenvolvimento do sistema nervoso central nos humanos ocorre entre a 32ª e a 34ª semana de gestação, decrescendo lentamente nas semanas subseqüentes. Por este motivo, os recém-nascidos pré-termo apresentam maior velocidade de crescimento do sistema nervoso central que os recém-nascidos a termo, nos primeiros meses de vida extra-uterina, bem como apresentam maior susceptibilidade aos efeitos deletéricos, muitas vezes irreversíveis, decorrente de aporte insuficiente e/ou inadequado de nutrientes neste período.
O objetivo maior da alimentação no recém-nascido pré-termo e'a manutenção do ritmo de crescimento igual ao que ocorre nas gestações normais, na vida intra-uterina. Esta nutrição é feita através de dietas adequadas que não provoquem sobrecargas intoleráveis aos sistemas metabólicos imaturos do bebê prematuro.
Esta nutrição deve ser administrada de forma adequada, e o Fonoaudiólogo que trabalha em Unidades Neonatais tem por obrigação ter conhecimentos sólidos sobre a nutrição dos bebês.
Independente da forma como esta alimentação será fornecida, deve-se considerar os seguintes objetivos nutricionais:

- suprir as necessidades nutricionais de cada recém-nascido;
- promover crescimento adequado;
- não produzir efeitos metabólicos indesejáveis;
- otimizar sua evolução a longo prazo.

Deve-se levar em conta algumas peculiaridades digestivas e metabólicas dos recém-nascidos pré-termo ao se programar sua alimentação (trabalho do Neonatologista junto à equipe de Nutrição):
- deficiente capacidade de sucção e deglutição, cuja coordenação só é alcançada após 32 semanas de idade gestacional (daí a importância do trabalho fonoaudiológico);
- facilidade de regurgitação decorrente da incompetência do esfíncter esofagiano inferior (também entra o trabalho do fonoaudiólogo);
- limitada capacidade gástrica;
- influência do decúbito no esvaziamento gástrico e tempo de trânsito intestinal maior que nos recém-nascidos a termo;
- secreção gástrica torna-se ácida poucas horas após o nascimento, mantendo-se assim por 7-10 dias, decaindo depois a níveis acima de 30% dos observados nos adultos;
- boa atividade das enzimas proteolíticas, garantindo boa digestão de proteínas;
- não apresentam boa digestão e absorção de gorduras, exigindo aporte de lipídeos com triglicerídeos de cadeia média e ácidos graxos insaturados para melhor aproveitamento desse nutriente (importante fonte de energia);
- devido à imaturidade dos sistemas metabólicos do recém-nascido pré-termo, há restrições à determinados aminoácidos e proteínas, que devem ser colocados na dieta em quantidades adequadas.

Se os nutrientes oferecidos ultrapassarem a capacidade metabólica do recém-nascido pré-termo, podem ocorrer distúrbios, como: acidose metabólica; persistência do canal arterial; enterocolite necrozante; hipercolesterolemia, e, possivelmente, doença cardiovascular na idade adulta.
Independente do tipo de técnica utilizada para a alimentação, esta irá assegurar ganho de peso mais rápido, níveis mais baixos de bilirrubina, diminuição da incidência de hipoglicemia e melhor desempenho neurológico a longo prazo, sem risco aumentado de pneumonia por aspiração.
As técnicas utilizadas são:
- Alimentação por via oral;
- Alimentação enteral (sonda gástrica / sonda nasogástrica);
- Alimentação parenteral (trajeto intravenoso).
- Alimentação por via oral:
O volume inicial deve respeitar a capacidade gástrica do recém-nascido, sendo aumentado gradativamente, de acordo coma prescrição médica.
Este tipo de alimentação poder ser feito no seio materno (amamentação) e/ou administração de mamadeira ou a técnica do copinho, já utilizada em muitos berçários.
Os recém-nascidos pré-termo com idade inferior a 34 semanas (pós-concepção) não apresentam reflexo de sucção e deglutição coordenados, necessitando do trabalho do Fonoaudiólogo na UTI-Neonatal, no início com uso de sonda. A transição para via oral ocorrerá somente a partir de 34 semanas de idade gestacional corrigida.
- Alimentação enteral:
Consiste na introdução de uma sonda através das narinas (sonda nasogástrica) ou da boca (sonda orogástrica), passando pelo faringe e esôfago até o estômago, um pouco além do esfíncter do cárdia.
Este tipo de alimentação (também chamada de gavagem) deve ser utilizada assim que o recém-nascido pré-termo estiver clinicamente estável, porém sem condições de sugar e/ou deglutir coordenada e eficazmente. Durante a gavagem, o Fonoaudiólogo pode estimular o recém-nascido pré-termo introduzindo o dedo mínimo em sua cavidade oral, ocorrendo cerca de duas sucções por segundo. Este tipo de trabalho deve ser realizado quando o bebê estiver acordado.
- Alimentação parenteral:
Utiliza-se do trajeto intravenoso para realizar este tipo de alimentação. É uma maneira de oferecer nutrientes (líquidos, calorias, proteínas, gorduras, minerais, eletrólitos, oligoelementos e vitaminas) com a finalidade de suprir as necessidades para o metabolismo basal e promover o crescimento.
"É de fundamental importância a manutenção de uma dieta enteral mínima junto com a nutrição parenteral, pois sabe-se que o jejum prolongado (enteral) resulta em hipotrofia do epitélio intestinal e diminuição da atividade das enzimas entéricas, principalmente as hidrolases." (Lucas et al., 1986)
"A alimentação parenteral (ou intravenosa) garante a sobrevivência dos bebês, fornecendo-lhes os nutrientes necessários, diminuindo ao mesmo tempo os riscos de aspiração e a ocorrência de enterocolite necrotizante - uma das intercorrências clínicas com índices de óbito significativos entre os prematuros." (Lorch & Lay, 1977).
O conhecimento dos tipos de nutrição numa Unidade Neonatal é muito importante, visto que a maior parte do trabalho do Fonoaudiólogo neste âmbito hospitalar objetiva a utilização da via oral para a alimentação o mais precocemente possível. Sendo assim, sem conhecermos a nutrição dos bebês de risco, não saberemos a finalidade da nossa atuação.

14.3.07

Higiene Vocal

A voz é produzida na laringe, que é um "tubo" onde estão localizadas as pregas vocais. Estas encontram-se na posição horizontal. Elas se afastam ao inspirarmos, quando o ar entra nos pulmões. Quando falamos, as pregas vocais se aproximam. O ar sai dos pulmões, e quando passa pela faringe produz vibrações, que resultam no som da voz.
A voz é o resultado do equilíbrio de duas forças: aerodinâmica (do ar que sai dos pulmões) e mioelástica (da força muscular da laringe. As alterações da voz podem ocorrer devido a um desequilíbrio neste equilíbrio de forças.
Depois que as pregas vocais produzem o som, ele é moldado pela faringe, boca e nariz. São as chamadas cavidades de ressonância.
Já a articulação dos sons da fala são feitos na cavidade oral, através dos movimentos de língua, lábios, mandíbula e palato, e o som é projetado para o meio ambiente. Estes movimentos articulatórios devem ser precisos para que os sons produzidos sejam claros e inteligíveis.
Este é o mecanismo normal para que a voz e a articulação das palavras ocorram sem alterações.

A Higiene Vocal:
As noções de higiene vocal existem para que possamos preservar a saúde vocal, prevenindo o aparecimento de alterações e de doenças.
Estes procedimentos devem ser seguidos por todos e principalmente pelos que utilizam mal a voz ou que têm tendências a alterações vocais.

O fumo:
O fumo é um agente altamente nocivo para o sistema respiratório. As pregas vocais são diretamente afetadas pela fumaça no momento em que se traga. As toxinas ficam depositadas diretamente na mucosa das pregas vocais.
O fumo pode causar irritação, pigarro, edema, tosse, aumento da secreção e infecções.
O indivíduo não fumante exposto à fumaça do cigarro também corre o risco de apresentar alterações, pois estará respirando a fumaça, agredindo da mesma forma, seu sistema respiratório.

O álcool:
O álcool causa irritação no aparelho fonador semelhante ao fumo, com a diferença de que reduz as respostas de defesa do organismo.
A ingestão do álcool anestesia a região da faringe, causando a perda da sensibilidade, e, conseqüentemente, levando o indivíduo a cometer uma série de abusos vocais. Após o efeito da bebida, ele sentirá os sintomas evidentes: ardor, queimação, voz rouca e fraca.
A associação do tabaco com o álcool triplica as chances do câncer de laringe e pulmões. Devemos somar a isto as características individuais, constitucionais, genéticas e familiares.

As drogas:
A laringe e a voz são diretamente afetadas com o uso das drogas, tanto as inalatórias quanto as injetáveis. Além destes prejuízos, as drogas causam dependência química e trazem conseqüências muito sérias à níveis neurológicos e alterações cardiovasculares.
A ação da maconha: é extremamente nociva. A irritação da mucosa se dá pela agressão do fumo e pelas toxinas do papel onde a erva é enrolada. Quando o indivíduo, no ato de fumar a maconha, aperta o cigarro com os dedos entre os dentes, provoca uma alta elevação da temperatura no trato vocal, funcionado como um maçarico invertido, o que lesiona extremamente os tecidos destas regiões. A voz torna-se mais grave, a articulação dos sons da fala tornam-se imprecisos e há alterações no ritmo e na fluência da comunicação.
A ação da cocaína: a aspiração da cocaína em pó pode lesar a mucosa de qualquer região do trato vocal. Geralmente, observa-se lesões perfuradas no septo nasal e/ou ulcerações ao nível da mucosa das pregas vocais. Quanto à cocaína injetável, esta provoca hipotonia (fraqueza) muscular e produz fadiga vocal e dificuldade em manter uma comunicação adequada e eficiente, ainda mais no que diz respeito ao uso profissional da voz.

Alergias:
As alergias são altamente prejudiciais para a laringe, pois são manifestadas à nas vias respiratórias. Os alérgicos são mais pré-dispostos a desenvolverem problemas de voz. As mucosas respiratórias incham-se, causando edema, dificultando assim, a livre vibração das pregas vocais. Outro agravante é a presença do constante do catarro, causando irritação direta na laringe.
As alergias são desencadeadas por determinados agentes, que quando em contato com os indivíduos alérgicos, provocam as crises. Os principais agentes são: mofo, umidade, poeira, perfumes, inseticidas, flores, pêlos de animais domésticos, dedetizadores, alguns tipos de cosméticos, certos tipos de alimentos, etc. Outro fator que pode auxiliar no disparo de uma crise é a instabilidade emocional, pois neste momento, o organismo encontra-se mais sensível.
Existem alguns cuidados que os indivíduos alérgicos podem tomar para minimizar as ocorrências de crises. Ele não deve ter carpetes ou tapetes em seu quarto, a poeira deve ser removida com pano úmido , as cortinas devem ser aspiradas freqüentemente (existem pessoas que não podem ter nem mesmo cortinas em seus quartos), o travesseiro deve ser envolto em plástico, evitando a produção de mofo através de seu suor, etc.

Hábitos vocais inadequados:
São considerados hábitos vocais inadequados: "raspar a garganta", pigarrear, realizar competição sonora, tossir com ausência de secreção (tosse seca). Estes hábitos podem contribuir para o aparecimento de alterações nas pregas vocais, devido ao atrito, que irrita e descama o tecido.
A utilização destes hábitos pode até produzir uma sensação de melhora, como se estivesse removendo um corpo estranho ou melhorando os sintomas de pressão na garganta. Estes hábitos devem ser eliminados logo após a conscientização do indivíduo, de que realmente pratica os hábitos inadequados e que realmente este fazem mal para sua saúde vocal. O que se pode recomendar quando houver catarro persistente, é, ao invés de pigarrear, inspirar profundamente pelo nariz e, em seguida, deglutir. Isto contribui para a retirada do excesso de secreção.
A competição sonora e a vocalização ao ar livre também contribuem para a instalação de alterações nas pregas vocais. É importante que o indivíduo mantenha um nível de voz moderado, em todas as situações. O sussurro ou o cochicho também não são aconselháveis, pois, da mesma forma, forçam as pregas vocais.

Alimentação:
Existem alguns tipos de alimentos que podem funcionar "atrapalhando" o funcionamento da voz. Alimentos pesados e muito condimentados são de difícil digestão. Isto irá dificultar a movimentação adequada do diafragma, que é essencial para a respiração. Para as pessoas que utilizam muito a voz e têm uma predisposição a alterações vocais, a ingestão de chocolate, leite e seus derivados, deve ser evitada, pois causam aumento da secreção no trato vocal. As bebidas gasosas também devem ser evitadas, pois causam distensão gástrica, prejudicando o controle da voz. Bebidas e alimentos gelados produzem choque térmico, ocorrendo uma descarga imediata de muco e edema das pregas vocais.
São indicados alimentos leves, verduras e frutas bem mastigadas. A maçã é um ótimo recurso, pois tem propriedade adstringente, facilitando a limpeza da boca e da faringe. Os sucos cítricos auxiliam a absorção do excesso de secreção. Água em temperatura ambiente hidratam a mucosa da garganta.

Outros fatores:

Vestuário: É importante evitar o uso de roupas ou adereços apertadas, principalmente no pescoço e na cintura, por causa do diafragma, que é um instrumento de apoio respiratório para a fonação. Os saltos muito altos também devem ser evitados, pois estes dificultam uma boa postura. Nestes casos, a postura fica tensa e enrijecida. O certo é se use roupas leves e folgadas, pois o corpo fica livre e movimenta-se mais fácil.

Esportes: Todos os esportes que causam tensão muscular no pescoço, costas, ombros e tórax devem ser evitados. Por exemplo: boxe, musculação, basquete, tênis, vôlei, etc. Os mais indicados são: caminhar, natação, ioga, alongamento. E as técnicas de massagem e relaxamento podem também auxiliar muito o equilíbrio da musculatura corporal.

Ar condicionado: Este aparelho funciona reduzindo a umidade do ar, conseqüentemente, provoca o ressecamento do trato vocal, fazendo com que a voz seja produzida de forma tensa e com esforço. A mesma coisa acontece com o uso de aquecimento do ambiente por calefação. Nestes casos, faz-se necessária a ingestão constante de água, com a finalidade de hidratar o trato vocal, evitando o ressecamento.

Alterações Hormonais: As alterações da voz pela influência dos hormônios pode se dar no período pré-menstrual, nos primeiros dias de menstruação, durante a gestação e com o uso de pílulas anticoncepcionais. Estas alterações manifestam-se por discreta rouquidão com voz grossa, ou fadiga vocal, decorrente do edema da pregas vocais, provocado pela alteração hormonal. Na menopausa, a voz também fica mais grossa, devido à queda dos hormônios femininos; já nos homens de terceira idade, a voz fica mais aguda.

22.1.07

A voz humana é produzida na laringe por uma estrutura semelhante a um lábio, denominada pregas vocais verdadeiras. Estas são pregas flexíveis, formadas de músculo e ligamento. Quando submetidas à pressão de ar vinda dos pulmões, as pregas vocais abrem-se e fecham-se rapidamente, criando pequenos sopros ou pulsações.
As pulsações emitidas através da abertura entre as pregas vocais (glote), colocam em vibração uma coluna de ar acima da laringe.
O tom laríngeo é seletivamente ampliado e modulado na garganta, boca e nariz. Este processo de "filtragem" é chamado ressonância.
Para emitir corretamente a voz, é necessária uma colocação correta da respiração, sem tensão ou relaxação das pregas vocais. Estas devem ter uma tonicidade "ideal" para que sua movimentação ocorra normalmente.
A respiração deverá ter uma coordenação entre inspiração e expiração, coordenação fono-respiratória, diretividade do sopro expiratório, movimentos livres da musculatura da região torácica e do músculo diafragmático. O tipo de respiração ideal é o costal diafragmático, pois este provoca o alargamento da base dos pulmões, permitindo maior entrada de ar e menor contração da musculatura torácica, pescoço e parte inferior da face (mandíbula e língua).

A voz é o resultado da integração de várias estruturas

Estruturas responsáveis pelo mecanismo da voz e da fala

11.1.07

A Importância Da Fonoaudiologia Preventiva

"Toda criança é um ser humano, fisicamente frágil, mas com o privilégio de ser o começo da vida, incapaz de se autoproteger e dependente dos adultos para revelar suas potencialidades, mas por isso mesmo merecedor do maior respeito." (Dallari & Korczah)
Inicio este texto com este trecho de Dallari e Korczah para passar a importância do desenvolvimento infantil com a participação ativa e efetiva do adulto, que muitas vezes pensa que a criança aprende tudo sozinha, e não é nada assim que as coisas acontecem.
Toda criança é um ser em constante desenvolvimento. Na medida em que a criança se desenvolve, modificam-se: seu organismo, suas proporções físicas, suas capacidades mentais, seus interesses, seu comportamento motor, emocional, social, etc.
Quanto maior e melhor qualidade de estímulos e interação com o meio externo (meio em que a criança convive), melhor será seu desenvolvimento global.
Pesquisas comprovam que:
  • Antes dos 5 anos uma criança consegue facilmente absorver enormes quantidades de informações. Se a criança tiver menos de 4 anos, isso será ainda mais fácil e eficaz; antes dos 3 será ainda muito mais fácil e eficaz; antes dos 3será ainda muito mais fácil e muito mais eficaz; e, antes dos 2 anos será feito de maneira mais eficaz de todas.
  • A criança com menos de 5 anos consegue receber informações numa velocidade incrível. Quanto mais informações uma criança absorve antes desta idade, mais ela retém.
  • A criança com menos de 5 anos tem uma enorme reserva de energia. Pode aprender a ler e quer aprender a ler.
  • Todas as crianças pequenas são gênios lingüísticos. A criança aprende uma língua completa antes dos 5 anos e pode aprender a falar e a ler, prontamente. (Pesquisas de Glenn Doman - Diretor de 7 Institutos nos Estados Unidos)

Esses fatores justificam a importância da atuação do Fonoaudiólogo com bebês e crianças até 5 anos, prevenindo patologias.

Bebês considerados "normais" podem (e devem) ser estimulados, pois apresentam uma enorme "porta" de entrada e armazenamento de informações, em todos os aspectos: motor, visual, auditivo, cognitivo, lingüístico, etc. O atendimento Fonoaudiológico Preventivo vai potencializar o desenvolvimento, fazendo com que bebês e crianças pequenas passem por uma futura vida escolar rica em todos os aspectos, dificultando a instalação de um distúrbio de aprendizagem.

Devemos esclarecer que estimular bebês, não é jogar qualquer tipo de estímulo, na quantidade que se quer, pois o cérebro do bebê também pode ficar estressado, carregado, fazendo com que ele chegue a um estado irritativo. Todo trabalho que seja de estimulação deve ser realizado por profissionais experientes.

Os pais podem (e devem) ajudar sim, brincando, falando com o bebê de frente para ele, oferecendo muito carinho, respondendo aos seus "questionamentos", não estimulando a fala infantilizada, etc. O que importa é a qualidade e não a quantidade de estímulos.

E-mail: flaviampaiva@gmail.com

6.1.07

Dificuldades de Aprendizagem

De acordo com a definição do National Joint Committee of Learning Disabilities (NJCLD, 1988), Dificuldades de Aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisicão e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático.
O ponto mais importante a ser ressaltado é que a criança com dificuldades de aprendizagem não é uma criança deficiente. A criança com dificuldades de aprendizagem é normal, e apenas aprende de uma forma diferente; apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o potencial esperado. Não apresenta deficiência mental, pois possui um potencial normal que não é realizado em termos de aproveitamento escolar.
Tomando como exemplo de dificuldade de aprendizagem a Dislexia, Rabinovitch (1960), um dos primeiros investigadores a integrar aspectos neuropsiquiátricos no conceito desta patologia. Este autor propõe que o perfil da criança disléxica pode ser provocada por:
Aspecto emocional : a capacidade está intacta, mas afetada por influência externa negativa;
Lesão cerebral : a capacidade de aprendizagem encontra-se afetada, devido a uma lesão cerebral manifestada por deficiências neurológicas (e não mentais) evidentes;
Verdadeira dificuldade de leitura : a capacidade de aprendizagem da leitura está afetada, sem nenhuma lesão cerebral detectada nos exames neurológicos.
De acordo com os estudos do autor sobre a Dislexia (um exemplo de dificuldade de aprendizagem, podemos verificar que uma criança com esta patologia não é portadora de deficiência, e sim uma criança que apresenta uma dificuldade específica.
As dificuldades de aprendizagem se manifestam quando o processo de aprendizagem não ocorre conforme o esperado, podendo se manifestar através de vários sintomas.
Podemos observar que numa criança que apresente dificuldade de aprendizagem, existem sintomas que estão sempre presentes: as falhas de percepção visual e/ou auditiva.
O processo perceptivo complexo depende dos sistemas sensórios e também do cérebro. Os sistemas sensórios detectam as informações, convertem esta informação em impulsos nervosos, processam parte dela e mandam a maior parte para o cérebro via fibras nervosas. O cérebro irá desempenhar o papel mais importante no processamento dos dados sensoriais.
Portanto, a percepção depende de quatro operações:
Detecção > Transdução (conversão) > Transmissão > Processamento da informação
A maior parte do processo de informação sensorial realiza-se nas diferentes regiões do córtex cerebral. Na percepção visual, por exemplo, o homem utiliza várias estratégias de processamento para interpretar a informação visual dos objetos, dentre elas: a constância, a figura-fundo, o agrupamento.
Quando a criança com dificuldade de aprendizagem apresenta falhas na percepção visual, ela pode comprometer estes itens todos ou uma parte deles. E assim também ocorre coma percepção auditiva.
O fonoaudiólogo deve saber realizar avaliações muito criteriosas para fazer a triagem de uma criança com queixa de dificuldades de aprendizagem.
Segundo McCarthy (1974), as crianças com dificuldade de aprendizagem apresentam um conjunto de condutas que se desviam em relação à população de crianças que não apresentam tais dificuldades. O autor enumera mais de 100 comportamentos específicos, porém os 10 mais freqüentes são os seguintes:
Hiperatividade;
Problemas psicomotores;
Labillidade emocional;
Problemas gerais de orientação;
Desordens de atenção;
Impulsividade;
Desordens na memória e no raciocínio;
Dificuldades específicas de aprendizagem: Dislexia (distúrbio grave da leitura devido à imaturidade e à disfunção neuropsicológica); Disgrafia (dificuldade no ato motor da escrita); Disortografia (troca de grafemas) e Discalculia (dificuldade para aprendizagem de noções da matemática, que inclui: quantidade, dimensão, ordem, relações, tamanho, espaço, forma, distância e tempo);
Problemas de audição e da fala;
Sinais neurológicos ligeiros e equívocos e irregularidades no Eletro-encefalograma.
A criança com dificuldade de aprendizagem apresenta inteligência normal, adequada recepção sensorial e comportamento motor e sócio-emocional adequado. Possui sinais difusos de ordem neurológica, provocados por fatores ainda hoje pouco claros, mas podendo incluir índices psico-fisiológicos, variações genéticas, irregularidades bioquímicas, lesões cerebrais mínimas, alergias, doenças, etc., que interferem no desenvolvimento e na maturação do sistema nervoso central.
Se acrescentarmos a esses dados aspectos emocionais, afetivos, pedagógicos e sociais inadequados, o quadro torna-se mais complexo.
Bannatyne (1971) apresentou numa visão global e diferenciada as principais características da criança com dificuldade de aprendizagem (ou da criança disléxica), salientando que nem todas as características obrigatoriamente necessitam estar presentes para se identificar o problema:
Problema de discriminação auditiva de vogais;
Inadequada seqüência fonema-grafema;
Fraca associação auditiva e pobre complemento auditivo;
Problemas de linguagem falada;
Problemas de maturação na funções da linguagem;
Alguma eficiência visuoespacial;
Problemas de lateralidade;
Inversão de imagens e de letras;
Inconstância configuracional e direcional;
Dificuldades em associar fatores verbais e conceitos direcionais;
Dificuldades no ditado (integração auditivo-visual-motora);
Fraco autoconceito.
Muitas vezes, a escola adota um critério seletivo e de rendimento que pode influenciar e reforçar a inadaptação escolar, culminando muitas vezes, mais tarde, no atraso mental, na delinqüência ou em sociopatias múltiplas.
Vamos determinar o que não é uma criança ou um jovem com dificuldades de aprendizagem, utilizando um diagnóstico por exclusão. A criança ou jovem com este problema:
Não aprende normalmente;
Não tem deficiências sensoriais (visuais ou auditivas). O que ocorre muitas vezes, é uma falha no processo de percepção e discriminação (perceber e discriminar visualmente e/ou auditivamente);
Não tem deficiência mental;
Não tem distúrbios emocionais graves;
Não emergiu de um contexto de privação ambiental ou sócio-cultural.
A importância da identificação precoce:

Na prática, a identificação precoce dos distúrbios de aprendizagem>, se faz de modo a evitar os problemas que tendem a se complicar com a evolução escolar.
Esses pequenos problemas costumam surgir na idade pré-escolar, onde geralmente são identificados pelos professores. A pré-escola é o período mais adequado para a identificação das dificuldades de aprendizagem, pois assim, podemos garantir uma intervenção preventiva nos seguintes parâmetros de desenvolvimento:
Linguagem;
Psicomotricidade;
Percepção auditiva e visual;
Comportamento emocional.
A identificação não é um diagnóstico, mas sim um processo de despistagem e rastreio, voltando a atenção para as necessidades educacionais específicas das crianças.
A identificação precoce dos problemas deve levar em consideração vários fatores, conforme exemplo a seguir:
Compreensão auditiva: compreensão do significado das palavras; discriminação de pares de palavras; discriminação de frases absurdas; compreensão de histórias lidas; compreensão dos diálogos realizados dentro da classe; memória de curto termo (palavras e frases); retenção da informação e execução de instruções verbais, etc.
Linguagem: vocabulário; organização gramatical; formulação de idéias (fluência); contar histórias; relatar fatos e experiências e acontecimentos; descrição de figuras e ilustrações; explicação e fundamentação de opiniões; qualidade e entonação da fala; reprodução de canções, rimas, etc.
Percepção visual: discriminação, identificação, complemento (gestalt), memória; coordenação visuomotora; figura-fundo; constância de forma; posição e relação de espaço; escrutínio visual; etc.
Orientação: orientação espacial; apreciação das relações; lateralidade em si e nos outros; direcionalidade; ritmo; apreciação do tempo; etc.
Psicomotricidade: equilíbrio; imagem corporal; imitação de gestos; desenho do corpo; agilidade; motricidade fina; manipulação de objetos; etc.
Criatividade: espontaneidade; curiosidade; exploração; dramatização; modelação; pintura; desenho; invenção; imaginação; grafismo; etc.
Comportamento social: cooperação com outras crianças e com adultos; atenção; organização; auto-suficiência; atividade lúdica; responsabilidade; cumprimento de tarefas; etc.
A intervenção fonoaudiológica se faz mais eficiente quanto mais cedo for colocada em prática. É importante lembrar que a intervenção é conseqüência de uma identificação dos sinais que funcionam como alerta para alguma coisa de "errado" que está acontecendo com a criança.
Até o próximo artigo, com mais informações sobre Fonoaudiologia e áreas afins!
E um FELIZ 2007 PARA TODOS OS LEITORES E FAMÍLIA!!!

Fonoaudiologia Gerontológica

Como sabemos, a Fonoaudiologia de um modo geral, tem como objetivo não somente a habilitação e/ou a reabilitação, mas também a busca de uma melhor qualidade de vida para os pacientes.

A Fonoaudiologia Gerontológica, se propõe a não somente tratar da patologia, mas também de acompanhar todo o processo de envelhecimento, com seus aspectos biológicos e psicossociais, garantindo assim, uma manutenção e intensificação das funções físicas e cognitivas do idoso.

Devemos estar muito bem informados no que diz respeito à nutrição dos idosos, aos processos demenciais, ao processo normal de envelhecimento, ao funcionamento da memória (que na maioria das vezes vai precisar ser trabalhada), etc.

Temos dois conceitos importantes para o trabalho com a terceira idade:
- Senescência: envelhecimento fisiológico;
- Senilidade: envelhecimento patológico.

Vamos considerar alguns processos de senescência: as principais alterações do ouvido na terceira idade, em geral, levam somente à diminuição da audição (Presbiacusia). Podem ter várias causas, como: a otosclerose; as intoxicações por alguns tipos de medicamentos; otites; acidente vascular encefálico; tumores; e até mesmo pelo acúmulo de cerúmen (ou cera).

O processo de envelhecimento que atinge a audição não é considerado patológico, mas sim uma perda natural de função. A otosclerose, por exemplo, é um processo de envelhecimento dos ossículos que formam o sistema auditivo, e que não leva à surdez, mas sim a uma perda parcial que se mantém estável, não tendendo à piora, sendo uma alteração auditiva do tipo condutiva. Pode ser acompanhada de zumbido, o que em geral ocorre nos dois ouvidos, levando a uma piora devido ao estado emocional, ansiedade e nervosismo.

Quando o zumbido está de um só lado, e há diminuição auditiva acentuada, em geral pode ser sintoma de pequenos tumores localizados na região do ouvido.

O processo de envelhecimento produz, normalmente, um declínio na acuidade visual, que em geral é discreto. A partir dos 60 anos, pode ocorrer a opacificação do cristalino, que caracteriza a catarata, que provoca acentuada diminuição visual.

Alguns distúrbios visuais podem ter como causas patologias que atingem os olhos e provocam alterações na visão, como por exemplo, o diabetes (retinopatia diabética, devido a má circulação sangüínea da retina provocada por vasos sangüíneos alterados pelo processo de aterosclerose) e a hipertensão.

O envelhecimento dos neurônios se inicia por volta dos 30 anos, levando a uma perda de células com conseqüente diminuição do peso do cérebro, que na terceira idade chega a pesar 10% a menos.

Há uma diminuição na irrigação sangüínea devido ao estreitamento das artérias. A conseqüência deste processo é uma diminuição da função celular, levando a queda na atividade cerebral, levando assim, a diminuição da memória.

Os tremores, os tiques e as alterações de voz (presbifonia: processo de envelhecimento vocal), fala e linguagem também podem ocorrer na terceira idade. Os distúrbios da gustação e do olfato podem também ser manifestações de certas patologias.

O acidente vascular encefálico, as demências e a Doença de Parkinson são as principais patologias neurológicas que acometem a terceira idade.

O estudo do sistema nervoso é feito através da Tomografia Computadorizada e da Ressonância Nuclear Magnética. O exame do liquor em geral é realizado para o estudo das infecções e dos processos imunológicos que atingem o sistema nervoso; e o Eletroencefalograma estuda a epilepsia. A Angiografia Cerebral deve ser realizada em determinadas ocasiões em que seja necessário um estudo dos vasos cerebrais, destacando-se os aneurismas intracranianos e as mal-formações artério-venosas.

Com apenas um resumo sobre o processo do envelhecimento e as principais patologias que acometem a terceira idade, podemos ter uma ampla idéia da diversidade do trabalho da Fonoaudiologia Gerontológica, onde podemos oferecer condições de vida muito melhores aos idosos, prolongando assim, o tempo de maior qualidade de vida para estes pacientes.