Nutrição do Recém-Nascido Pré-Termo
O ápice do desenvolvimento do sistema nervoso central nos humanos ocorre entre a 32ª e a 34ª semana de gestação, decrescendo lentamente nas semanas subseqüentes. Por este motivo, os recém-nascidos pré-termo apresentam maior velocidade de crescimento do sistema nervoso central que os recém-nascidos a termo, nos primeiros meses de vida extra-uterina, bem como apresentam maior susceptibilidade aos efeitos deletéricos, muitas vezes irreversíveis, decorrente de aporte insuficiente e/ou inadequado de nutrientes neste período.
O objetivo maior da alimentação no recém-nascido pré-termo e'a manutenção do ritmo de crescimento igual ao que ocorre nas gestações normais, na vida intra-uterina. Esta nutrição é feita através de dietas adequadas que não provoquem sobrecargas intoleráveis aos sistemas metabólicos imaturos do bebê prematuro.
Esta nutrição deve ser administrada de forma adequada, e o Fonoaudiólogo que trabalha em Unidades Neonatais tem por obrigação ter conhecimentos sólidos sobre a nutrição dos bebês.
Independente da forma como esta alimentação será fornecida, deve-se considerar os seguintes objetivos nutricionais:
- suprir as necessidades nutricionais de cada recém-nascido;
- promover crescimento adequado;
- não produzir efeitos metabólicos indesejáveis;
- otimizar sua evolução a longo prazo.
Deve-se levar em conta algumas peculiaridades digestivas e metabólicas dos recém-nascidos pré-termo ao se programar sua alimentação (trabalho do Neonatologista junto à equipe de Nutrição):
- deficiente capacidade de sucção e deglutição, cuja coordenação só é alcançada após 32 semanas de idade gestacional (daí a importância do trabalho fonoaudiológico);
- facilidade de regurgitação decorrente da incompetência do esfíncter esofagiano inferior (também entra o trabalho do fonoaudiólogo);
- limitada capacidade gástrica;
- influência do decúbito no esvaziamento gástrico e tempo de trânsito intestinal maior que nos recém-nascidos a termo;
- secreção gástrica torna-se ácida poucas horas após o nascimento, mantendo-se assim por 7-10 dias, decaindo depois a níveis acima de 30% dos observados nos adultos;
- boa atividade das enzimas proteolíticas, garantindo boa digestão de proteínas;
- não apresentam boa digestão e absorção de gorduras, exigindo aporte de lipídeos com triglicerídeos de cadeia média e ácidos graxos insaturados para melhor aproveitamento desse nutriente (importante fonte de energia);
- devido à imaturidade dos sistemas metabólicos do recém-nascido pré-termo, há restrições à determinados aminoácidos e proteínas, que devem ser colocados na dieta em quantidades adequadas.
Se os nutrientes oferecidos ultrapassarem a capacidade metabólica do recém-nascido pré-termo, podem ocorrer distúrbios, como: acidose metabólica; persistência do canal arterial; enterocolite necrozante; hipercolesterolemia, e, possivelmente, doença cardiovascular na idade adulta.
Independente do tipo de técnica utilizada para a alimentação, esta irá assegurar ganho de peso mais rápido, níveis mais baixos de bilirrubina, diminuição da incidência de hipoglicemia e melhor desempenho neurológico a longo prazo, sem risco aumentado de pneumonia por aspiração.
As técnicas utilizadas são:
- Alimentação por via oral;
- Alimentação enteral (sonda gástrica / sonda nasogástrica);
- Alimentação parenteral (trajeto intravenoso).
- Alimentação por via oral:
O volume inicial deve respeitar a capacidade gástrica do recém-nascido, sendo aumentado gradativamente, de acordo coma prescrição médica.
Este tipo de alimentação poder ser feito no seio materno (amamentação) e/ou administração de mamadeira ou a técnica do copinho, já utilizada em muitos berçários.
Os recém-nascidos pré-termo com idade inferior a 34 semanas (pós-concepção) não apresentam reflexo de sucção e deglutição coordenados, necessitando do trabalho do Fonoaudiólogo na UTI-Neonatal, no início com uso de sonda. A transição para via oral ocorrerá somente a partir de 34 semanas de idade gestacional corrigida.
- Alimentação enteral:
Consiste na introdução de uma sonda através das narinas (sonda nasogástrica) ou da boca (sonda orogástrica), passando pelo faringe e esôfago até o estômago, um pouco além do esfíncter do cárdia.
Este tipo de alimentação (também chamada de gavagem) deve ser utilizada assim que o recém-nascido pré-termo estiver clinicamente estável, porém sem condições de sugar e/ou deglutir coordenada e eficazmente. Durante a gavagem, o Fonoaudiólogo pode estimular o recém-nascido pré-termo introduzindo o dedo mínimo em sua cavidade oral, ocorrendo cerca de duas sucções por segundo. Este tipo de trabalho deve ser realizado quando o bebê estiver acordado.
- Alimentação parenteral:
Utiliza-se do trajeto intravenoso para realizar este tipo de alimentação. É uma maneira de oferecer nutrientes (líquidos, calorias, proteínas, gorduras, minerais, eletrólitos, oligoelementos e vitaminas) com a finalidade de suprir as necessidades para o metabolismo basal e promover o crescimento.
"É de fundamental importância a manutenção de uma dieta enteral mínima junto com a nutrição parenteral, pois sabe-se que o jejum prolongado (enteral) resulta em hipotrofia do epitélio intestinal e diminuição da atividade das enzimas entéricas, principalmente as hidrolases." (Lucas et al., 1986)
"A alimentação parenteral (ou intravenosa) garante a sobrevivência dos bebês, fornecendo-lhes os nutrientes necessários, diminuindo ao mesmo tempo os riscos de aspiração e a ocorrência de enterocolite necrotizante - uma das intercorrências clínicas com índices de óbito significativos entre os prematuros." (Lorch & Lay, 1977).
O conhecimento dos tipos de nutrição numa Unidade Neonatal é muito importante, visto que a maior parte do trabalho do Fonoaudiólogo neste âmbito hospitalar objetiva a utilização da via oral para a alimentação o mais precocemente possível. Sendo assim, sem conhecermos a nutrição dos bebês de risco, não saberemos a finalidade da nossa atuação.